Certo dia, uma amiga e parceira no processo de educação de essencialidades me fez uma pergunta: “Você já se perguntou se está fazendo a coisa certa… em relação aos estudos do Sistema Tempo de Ser?”. Respondi a ela que me peguei com estes pensamentos várias vezes em que estava me sentindo cansada por observar o quanto só sobrevivi, até o momento, associado ao medo do que poderia encontrar se continuasse o processo de autoconhecimento… Acho que o medo era maior que o cansaço, pois ele me fazia ter estes pensamentos de “desistir” ou julgar “certo/errado” como sempre fez para que eu pudesse oprimir o que não dava conta de sentir: a solidão da ausência de mim mesma.
Em um momento, neste processo, comecei a me perguntar: “Até onde vai tudo isso? Onde tenho que chegar? Como saberei que cheguei à autoconsciência? Como saberei o que é a verdade se parece que consigo apenas imaginar?”, mas continuei o processo mesmo com todas as dúvidas e medos, arriscando mais, observando os resultados e exercitando a aprendizagem de lidar com as consequências. Considerei que todas estas perguntas eram formas de intelectualizar para fugir do que sentia. Quando, no final de 2016, observei em mim uma dor muito intensa com as consequências das atitudes que arrisquei o ano todo e, é claro, vieram as vozes de condenação que me tentavam “alertar” o tempo todo: “Viu só!? Você não deveria ter feito isso! Não deveria ter arriscado!”. Mas, então, pela primeira vez, mesmo mergulhada em tanta dor que havia resultado em um choro intenso (catarse), após permitir toda esta manifestação, “balancei a cabeça”, “abri meus olhos” e me dispus a olhar além de tudo aquilo que sempre enxerguei. Olhei em volta e percebi que o fato em si, o fato daquele momento, não justificava tudo aquilo que eu estava manifestando, toda aquela dor… Estava me sentindo condenada como se tivessem descoberto um grande segredo meu e, na realidade, naquele momento, não estava acontecendo nada daquilo. Então, após ver que a situação real não era condizente com o que eu sentia, e minha mente se aquietar, tentei observar apenas o que eu sentia e a situação que existia em minha imaginação a partir disso. Eu tinha algum segredo? Por que tanto medo de ser condenada? Se tinha, não era de um fato atual, mas sentia como atual. Tinha relação com algum fato de fases da minha vida que haviam passado mas que me marcaram profundamente, e que meu sentir sempre resgata com cenas novas (novas roupagens). Com isso, dias depois deste resgate e observando minhas sensações, autodescrevi o seguinte parágrafo:
Estou fazendo as coisas do dia a dia com sensação de vergonha. Todos já sabem… não há mais o que fazer… não há mais o que esconder… sensação de morte… perda de sentido… Se não preciso mais me esconder, qual função terei? Me levo para lá… me levo para cá… executo e observo… só… interessante descobrir quem sou… interessante ver… Dolorido? Sim… mas não mais dolorido que esconder, pois isso era dolorido e angustiante. Opressor. A angústia já não pesa tanto… sinto certa leveza… mas leveza da incerteza… Não sei, mas não estou mais com medo de não saber… É isso… não sei mas estou vendo… Se aprenderei? Também não sei… quero apenas continuar vendo… com tudo que sempre acreditei e com o que não acreditei (escondi)… tudo é meu patrimônio. Tudo está comigo, mas não sou eu. Apenas leva a mim… vou chegar… e continuar… (Daniene 24/01/17).
A mesma incerteza que sentia massacrar-me, passou a me conferir leveza. Antes eu sentia que ela me massacrava, pois acreditava ter que saber. Agora ela me permite sentir-me livre para aprender, pois constatei que não sei…
Depois disso, vieram sensações de que eu não precisava chegar a lugar algum. Que eu precisava apenas me encontrar e que isto já estava acontecendo aos poucos. Que o processo de autoconhecimento e autoaprendizagem não tem “um fim” com o sentido de final mas apenas “o fim” com sentido de propósito do ser humano. Eu parei de me preocupar se chegaria a algum lugar, a algum ponto específico. O que eu passei a sentir foi uma certa satisfação em poder olhar ao que nunca havia olhado em mim, poder acolher o que sempre senti e nunca havia sido acolhido. Com isso, um ponto de chegada, como um ponto fixo, já não era mais o objetivo. O objetivo, ou propósito, era simplesmente continuar sempre… o que é sempre presente (sem passado nem futuro). O que, na verdade, sempre é contínuo e que eu apenas não reconhecia como tal… O que simplesmente é, sem marcação de tempo… Talvez, isto seja ser… Mas não ter certeza se isto é ser ou não, não me tem preocupado mais… Não me preocupo mais em ter “certezas”… Se o que tenho feito é o que realmente deveria fazer, não sei… Só sei que estou fazendo comigo, aos poucos, o que sempre esperei que os outros fizessem e isso tem me revelado a mim. Isto é meu maior valor: revelar-me a mim! Independentemente de tempo e espaço… independentemente de todos os conceitos e crenças… independentemente de toda imaginação e ilusão… independentemente do que chamo de caos ou ordem… independentemente… Apenas continuar a autorrevelação…
Assim, para mim, atualmente, a autoconsciência não é um ponto de chegada, é um processo contínuo. Um processo meu, individual, em comunhão com tudo o que chamo de universo. Um processo em que morte e vida se complementam e se fundem e que, quando percebo isso, sinto que a única coisa que resta é a vida… é viver… Assim, segue mais uma de minhas anotações de autodescrição de parte deste processo, que descrevi anteriormente:
Realmente a morte e a vida sempre andam juntas. Estão presentes em mim a todo instante, juntas. Sinto que, apesar de todas as mortes que estão ocorrendo em mim, nunca me havia sentido tão viva. Apesar do que consigo definir das minhas sensações do momento como tristeza pelas desilusões e desânimo pela perda de sentido do que eu considerava ter sentido, não me sinto tão insatisfeita como antes. A insatisfação já não é mais um fardo e considerá-la como essencial para minha busca faz com que eu sinta satisfação. Satisfação em simplesmente olhar verdadeiramente, pela primeira vez, sem fugir da realidade e dos fatos de minha história e das sensações que pertencem exclusivamente a mim. Não sei dizer das outras pessoas nem comparar com as outras pessoas, apenas considero nos outros o que sei em mim. Não sei descrever o que sinto, pois não aprendi. Mas eu sei que sinto. Isso eu afirmo que sei. Considero que seja a única coisa que sei, no momento, e que considero real. Sentir é real. Talvez me falte aprender a descrever e entender este sentir. E qual seria a primeira etapa para isso? Não fugir do que sinto. Olhar verdadeiramente. Por isso que tudo que está morrendo em mim faz-me sentir viva. As desilusões trazem a sensação de morte que me fazem tocar a vida porque por trás da cortina da ilusão e da imaginação encontra-se a realidade e é ali que me toco e sinto a vida que sou. Não sei definir bem… Na sensação de vazio sentida, encontrei o escuro. Como há uma escuridão no vazio, este já perde seu estado de vazio por estar preenchido pelo escuro. Agora, “o escuro”, sendo ele da cor preta ou branca ou cinza, porque o “escuro” era simplesmente não conseguir ver, não me preocupa mais. Neste vazio preenchido pelo escuro, não encontro nada externamente a mim, mas encontro a mim. Não vejo nada em volta, mas a sensação em mim é intensa. Mesmo sem tocar em nada, sinto em todas as extremidades que percebo de mim. Só sinto… Isto às vezes parece pouco para os conceitos que sempre me submeteram, mas é no sentir que pareço tocar a vida enquanto vivencio a morte das ilusões. Vivencio a morte? Olhe a vida e a morte juntas aí!..(Daniene 26/04/17).
Continuemos no processo de educar a essência que somos – aprendendo a viver. Para isso, os métodos já estão à nossa disposição e os ambientes aguardam a nossa disposição para serem constituídos. Vamos juntos nesse desafio!
Obrigada, querida amiga e parceira Lilian Flores, por esta questão-estímulo e por nossos diálogos de reflexões para a educação de essencialidade em nós.
Daniene Tesoni Cassavara Ribeiro
Educadora de Essencialidades – Núcleo de Birigui – Sistema Tempo de Ser