Diante do inesperado, porém sabido, que é certa sua visita, ainda nos chocamos com a morte. Sofremos e choramos a morte de um ente querido, de um amigo, de um artista. Chocamo-nos e sentimo-nos injustiçados por essa indesejada morte ter levado tão cedo uma pessoa tão talentosa, tão brilhante, tão querida.
Mas o que esperar no sentir dessa ilustre desconhecida? Como não sentir a perda? Como não sentir que nos é arrancado um pedaço quando a morte chega?
E pensando que o homem é composto de todos os homens, vindo de uma linhagem sem fim de antepassados nem mais lembrados, nem mais sentidos. Composição feita de retalhos de toda gente que com a gente se mistura o tempo todo em todos os instantes. Ainda assim, considerando que sou formado de todos os retalhos de todos os seres humanos, sinto-me impotente diante da realidade da morte inevitável.
O humano morre. Morre e, a seu tempo, seu corpo se desfaz, se desmancha. Fica na memória dos que com ele conviveram, no coração da família que, em gerações que se seguem, também se encarrega de cair no esquecimento, no desaparecimento.
Mas, como o homem é feito de retalhos de todos os homens, ele continua em cada um. Ainda que não me lembre de todos os meus antepassados, que me trouxeram até aqui, sou retalho de todos. E sou também retalho de todos com quem convivo – e que me marcam – mesmo que eu não saiba disso.
O homem considera a morte como um fim e não percebe que as gerações, que se seguem depois dele, o levam um pouquinho.
Para o homem que possui um corpo orgânico, feito de carbono, só lhe resta, com a morte, seu desaparecimento. Seus feitos perpetuam-se na história do homem.
Mas, o que no homem não morre? O que animou aquele corpo orgânico? O que dava vida àquele corpo? Será que morre com ele? Não seria esse corpo um instrumento para o que o anima aprenda? Podemos falar de alma, espírito, inteligência, psiquê. Para onde ela vai? O que acontece com ela? A certeza da morte traz essas perguntas e onde estão as respostas? Quero saber? É Tempo de Saber. É Tempo de Ser.
Marlésia Garcia – NA-SJC