Refletir sobre a morte: postura de um aprendiz

Em nossa sociedade, a morte é um assunto considerado tabu. Não se fala da morte e muito pouco se pensa sobre ela, fora de situações em que a pessoa se vê diante dela (seja a própria, de um ente querido ou mesmo de desconhecidos, vítimas de tragédias). É como se não pudéssemos pensar sobre a morte e o morrer sem algum motivo que faça com que nos defrontemos com ela.

No entanto, você já se perguntou qual o sentido de termos consciência da própria morte? Até onde temos conhecimento, o homem é o único ser que sabe que irá morrer. Como vemos essa consciência? Como um benefício? Ou como um mal?

A morte é a única certeza que temos na vida. Tanto a nossa morte quanto a de nossos entes queridos. Por mais que a gente busque defender-se dessa realidade, não se consegue fugir ao fato de morrer. E por mais difícil que possa ser encarar esse fato, é somente ao pensar dessa forma, ao tocar essa realidade, que podemos encontrar um sentido maior na vida. É justamente o fato de sermos mortais que pode fazer com que, estando atentos sobre esse fato, possamos de verdade usufruir das oportunidades que temos na vida.

Para isso é preciso abrir uma fresta para de fato olhar morte e vida. Só é possível considerar a morte através de uma inteligência e sensibilidade que começam a transitar de sua humanidade para outros parâmetros da vida e do viver.

A consciência de que vamos morrer pode fazer com que se busque viver para além da sobrevivência. Se temos consciência de que vamos morrer e vivemos cada oportunidade na vida como se ela fosse a última oportunidade que temos, deixamos de viver no automatismo da sobrevivência. Dessa forma, quando eu me dou conta de que sou mortal, posso assenhorear-me simultaneamente da vida que tenho, da vida que sou.

Assim, pensar sobre a morte é psíquico, algo que vai além do cerebral, que seria procurar distrair-se da realidade de que vamos morrer. Refletir sobre a morte, dessa forma, ‘encarar’ essa realidade, é ser inteligente e sensível, ter uma postura de alguém que se coloca no papel de aprendiz da vida e de si mesmo.  Eu só posso viver de fato a vida que eu manifesto se procurar conhecer aquilo que sou. Dessa forma, sem autoconhecimento seremos apenas levados pelos aspectos inconscientes em nós.

Por mais resistentes que possamos ser a pensar sobre nosso processo de morte (que se iniciou no nosso nascimento), ao pensarmos sobre a morte como um processo, podemos dignificar a vida. Para viver uma vida, na realidade, preciso entender a morte como uma parte dela. Se eu nego a possibilidade de morte, que existe a todo instante, eu me iludo.

Será que vivemos nosso dia a dia de forma consciente? Será que utilizamos bem a nossa existência? Ou vivemos de forma mecânica, no automatismo que nossa rotina nos proporciona?  Será que, vivendo na inconsciência de mim, do que sou, não estou “vivendo um tipo de morte”?

Não há possibilidade de vida (verdadeiramente vivida) sem nos abrirmos para o aprendizado sobre aquilo que somos.

Todos morremos. Mas será que todos vivemos? Ou só sobrevivemos?

Que a gente possa aprender a pensar sobre a morte para aprender a pensar sobre a vida. Que a gente possa importar-se mais com a vida que temos em nossos dias do que dias em nossas vidas. Que a gente se importe mais com a qualidade com que estamos ocupando o nosso tempo do que com a quantidade de tempo que ainda temos. Que no dia de hoje eu possa estar presente na minha vida, aprendendo sobre mim e sobre o mundo. Que eu possa colocar-me na postura de aprendiz.

Por Gabrielle Dias Duarte e Bruna Amélia Serafim Silva – Educadoras de Essencialidades do Sistema Tempo de Ser

2 comentários em “Refletir sobre a morte: postura de um aprendiz”

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