A incessante busca do homem, por conhecer mais profundamente sua natureza, conduziu-o a grandiosas conquistas exteriores, que aperfeiçoaram os métodos de sobrevivência e lhe garantiram determinado conforto, promovendo formas de existir mais aprimoradas.
Embora conheça muito, o homem não sabe de si mesmo. Sente em seu íntimo forças desconhecidas que o constrangem sem que consiga decifrá-las, pois continua voltado para o exterior, sem perceber que a dor, como tudo que é sentido, ocorre em uma zona sensível no seu mundo íntimo.
Observando a sociedade moderna, podemos verificar que, em relação às necessidades voltadas aos aspectos emocionais, o homem não tem conseguido supri-las. Tal fato gera incômodo, sofrimento e reações-respostas que geram comportamentos padrões inconscientes.
Se pararmos para observar a origem das dificuldades que afetam os seres, podemos constatar que elas quase sempre têm relação direta com outros seres.
O homem como forma de vida no planeta
O homem é uma forma de vida de nosso planeta e, ao contrário do que os pensadores pré-darwinianos acreditavam, ele faz parte da natureza, não está acima dela. É um ser integral, um organismo completo e capaz de interagir e ser ativo no seu processo de desenvolvimento.
Ele é capaz de aprender com sua história e a história de sua espécie, e, com tudo isso, ainda é capaz de ser estudado e entendido com os mesmos princípios que regem toda a natureza.
Através de longos ciclos de evolução caminhou pautando-se pelos princípios de sobrevivência, ou seja, nutrir e reproduzir. Tudo em conformidade com o funcionamento autônomo do sistema nervoso e por uma sucessão de configurações físico-neurológicas em seu cérebro.
O homem age sobre o meio e sofre a ação desse meio de forma contínua. Entender as variáveis contidas nesse processo de interação é fundamental para não permanecer dormindo, sem a percepção de si mesmo e do que o cerca, ou seja, em estado inconsciente.
O homem e sua área emocional
Portador de uma área emocional, que hoje o constrange e afunila, nada se faz mais premente, e se reveste de maior sentido, do que remontar a própria história, conhecer o percurso construído e compreender esse universo interior que, em si mesmo, foi constituído a partir de sua forma única e peculiar de “sentir.”
No processo de evolução adquiriu características específicas: a inteligência, a consciência, o pensamento consciente, os sentimentos e as emoções. Essas características reunidas permitiram ao homem ser um observador tenaz do mundo exterior, possibilitando-lhe formular conhecimento com propósitos de encontrar maneiras mais precisas no que se refere à sobrevivência. Mas, se retirarmos do homem todas as atribuições que o ligam ao mundo exterior, o que restará?
O homem na atualidade
Na atualidade encontra-se culto, porém inflexível, perdido, soterrado de informações e cada vez mais insatisfeito. Apresenta inflexibilidade nos relacionamentos, fortes oscilações de humor, irritabilidade frequente, baixíssima tolerância a contrariedades, identificação das dificuldades somente no externo, ansiedade etc.
Quando o homem fica só sente uma inquietude que se expressa na forma de uma torrente incontida de pensamentos confusos e indesejáveis. Estes são acompanhados de insônia e estresse emocional, produzindo dificuldades psíquicas, psicológicas e fisiológicas. O que o leva inconscientemente a distrair-se e a buscar ocupações que o impeçam de lidar com o desconhecido que habita sua intimidade. Em seu íntimo há gritos surdos, em forma de ecos dilacerantes, a oprimi-lo, impedindo-o de sentir conforto em sua própria companhia. Somos o que representamos socialmente, ou somos o que sentimos?
Quais os desafios do homem na atualidade?
Entendemos que surge, para a forma de vida humana, mais um desafio, e que não está na superação exterior, mas justamente em mecanismos internos que o indivíduo desconhece totalmente. Esses mecanismos agem e reagem sem que tenhamos controle e normalmente vêm acompanhados por arrependimentos que muitas vezes são irremediáveis, gerando muitos sofrimentos e dificuldades. Cabe aqui a famosa frase do mito da esfinge de Tebas: “Decifra-me ou te devoro”.
Se eu não sei o que sou, não sei o que pode surgir de mim.
A partir desse momento, surgem novas necessidades, a busca do conhecimento de si mesmo. Conhecimento no qual o sujeito que o produz é também o objeto conhecido; em outras palavras, o ser humano e a condição de vida humana passam, então, a ser objeto fundamental de toda aprendizagem. Desta forma, deve-se considerar todo o contexto evolutivo do homem, sua peculiar capacidade de sentir, que o torna único e com necessidades íntimas que lhe são singulares e que precisam ser reveladas por si e para si mesmo.
O autoconhecimento como necessidade progressiva
O autoconhecimento, no percurso existencial, surge como necessidade progressiva, possibilitando ao homem buscar as causas das movimentações dos seus sentimentos, correlacionando-os às suas reações-respostas e aos fatos gerados por elas. Evitando desta forma que as repercussões orgânicas e sociais conduzam o convívio humano a um verdadeiro caos.
Na intimidade de cada homem existe um potencial psíquico em desenvolvimento; hoje, porém, o homem está em um estado de consciência que pensa o mundo.
O que o autoconhecimento propõe?
O autoconhecimento propõe ao homem que passe a pensar a si mesmo, observando ações e reações que ele não sabe de onde vieram, como surgiram e para onde retornaram, colocando-o sempre em risco na relação com o ambiente em que está inserido. Quanto maior e mais profundo for o entendimento de (minha) realidade interior, mais aprimoradas serão as formas de viver. Desta forma o indivíduo desenvolve a capacidade de dirigir-se autonomamente, de administrar-se livremente, antecipando e coordenando, conscientemente, os fenômenos ou forças que se movem no seu interior e exterior, conferindo-lhe o poder de decidir sobre as mudanças que quer realizar por si e a partir de si. Numa palavra, autoeducação. Admitir-se inconsciente quanto ao seu sentir, quanto às suas reações-respostas e quanto ao sentido e significado do existir, justifica todo e qualquer empreendimento de autoconhecimento.
O Sistema Tempo de Ser e sua pedagogia voltada ao autoconhecimento
O Sistema Tempo de Ser, como a organização educacional criadora da pedagogia Educação de Essencialidades, propõe um método que estimula – no indivíduo – o autoconhecimento, possibilitando-lhe conhecer-se e estar atento às condições em que age e às consequências dessas ações. Desta forma amplia-se a possibilidade de agir de forma mais adaptada e funcional no meio em que vive. Passa a priorizar a si mesmo, através da observação do homem que está, como um fenômeno, conduzindo a inteligência humana a ajustar-se ao homem e a assumir o que realmente é, ou seja, inteligência com capacidade de aprender sobre si mesmo.
Por: Juliane Isper Campos – Educadora de Essencialidades do Sistema Tempo de Ser
Muito bom o texto.
Reflete o antagonismo, na atualidade, entre o que o homem diz ou representa, e o que realmente sente.
Parabéns pelo artigo.