Após alguns anos de observação, apresento algumas considerações sobre o meu aprendizado alcançado pela vivência no método didático-pedagógico do Sistema Tempo de Ser, denominado Educação de Essencialidades (somos essenciais para nós mesmos).
Começo com uma reflexão sobre a minha ignorância: Eu sou ignorante do meu estado de ignorância. Sou ignorante da minha própria humanidade. Portanto, também não tenho consciência do papel do homem como instrumento de ensino. Estou acostumado a ver externamente e a culpar o outro, isso em razão das limitações características da espécie.
Protegido por esse manto de ignorância, tecido para preservar a vida humana individual e, como consequência, garantindo a sobrevivência da espécie, em poucos momentos da vida convidei-me a ter um olhar mais amplo e abrangente. Contudo, lembro-me com clareza de vários momentos de inquietação e incômodo pela total ausência de sentido da vida humana. Eu não conseguia me explicar, a despeito de fazer exatamente aquilo que fui programado para fazer. Em inúmeras situações constatei a falta de sentido da minha existência.
Essa constatação da ignorância outrora me deixava envergonhado, regido que era pelo orgulho humano. Hoje, ao contrário, a constatação da minha ignorância dá origem a um prazer inigualável. Isso porque só consigo aprender algo se admito que nada sei sobre esse algo.
Resolvi dedicar-me intensamente ao ser fisiológico (como funciono) e ao psicológico (como me comporto). Essa experiência é uma interpretação pessoal. O assunto a ser tratado é o ser humano com todas as suas características e, principalmente, o ser humano regido pela imutável lei de sobrevivência. Aprendi que o caminho não é combater o ser humano, mas é preciso conhecê-lo e identificá-lo para identificar a mim mesmo. Depois disso, poderei fazer a viagem rumo ao conhecimento íntimo, a viagem para a vida interior.
Não consigo saber, ainda, que vida é essa, mas não estou disposto a abandoná-la. Ao contrário. Entendi que o caminho escolhido pode levar-me a compreendê-la melhor e até dar condições para fazer inferências sobre ela, a partir da observação do meu modo de ser.
Além da inexplicável, incômoda e constante inquietação, fui estimulado a olhar além dos fenômenos que ocorriam fora de mim e a vasculhar a minha infância, cenário rico em elementos esclarecedores sobre a pessoa que me tornei. Adotei a criança (força psicológica infantil) que habita o meu ser. Caminhamos juntos, lado a lado, numa viagem esclarecedora. Visitamos alguns cantinhos escuros e silenciosos. Conseguimos criar hipóteses explicativas para alguns dos fatos que acontecem comigo e para alguns dos meus comportamentos. Enfim, estamos próximos. Eu consegui olhar para ela.
Fui estimulado a interessar-me por mim mesmo.
De forma clara e pontual, além de municiar-me de recursos para o melhor convívio humano, o Sistema Tempo de Ser trouxe uma nova lógica para a análise crítica e racional do meu comportamento. A grande prova disso se vê na iniciativa. Antes fugidia e silenciosa; hoje presente e educadora.
A minha história havia sido arquivada, ou melhor, soterrada nos porões mais profundos da minha inconsciência. Ao compreender que sem conhecê-la eu continuaria sendo um repetidor de atitudes programadas, resolvi investigá-la. Ao andar em direção à minha história, começo a descobrir a minha vida verdadeira.
Reforço esse pensamento com um trecho de Jung: “verdadeiramente, aquele que olha o espelho d’água vê em primeiro lugar sua própria imagem. Quem caminha em direção a si mesmo corre o risco do encontro consigo mesmo. Esta é a primeira prova de coragem no caminho interior, uma prova que basta para afugentar a maioria, pois o encontro consigo mesmo pertence às coisas desagradáveis que evitamos”.
No entanto, a trajetória pela humanidade é o nosso bem mais precioso e a fonte mais rica quando o assunto é aprendizagem…
Por Wilson Roberto Poi – Educador de Essencialidades do Sistema Tempo de Ser
Adorei este relato, me identifico
Parabéns Poi pelo estímulo.
Que coragem, vi que sou corajosa.
Sensível reflexão!
Coragem Wilson , nossos jovens precisam de você.
Ótimo artigo, muito me identifico com essa narração sobre seu processo de autoconhecimento.