Se a impermanência é inerente à forma de vida humana, por que vivemos como se a morte nunca nos fosse alcançar?*
Marcar um encontro é uma atitude de convivência natural, comum entre os seres humanos, como rever um amigo, visitar um parente ou mesmo namorar. Porém, deparar-se com um encontro deliberado, narrado no filme Encontro Marcado, é, no mínimo, intrigante, instigante, e ao mesmo tempo, apavorante para os humanos, claro! Falar “dela” já é constrangedor, quanto mais darmos conta de que “ela” nos alcançou – a temida “dona morte”.
Encontro Marcado conta a história de William ‘Bill’ Parrish (Anthony Hopkins), um empresário norte-americano que, dias antes de completar 65 anos de idade, recebe a visita de um estranho e misterioso homem, Joe Black (Brad Pitt), que se apresenta como sendo a “morte personificada”. Em troca de mais algum tempo de vida, Bill aceita ser o guia de Joe na Terra, para este vir a saber como é a vida dos mortais. No entanto, Bill e Joe deparam-se com algo que nenhum deles esperava: Joe, a Morte, apaixona-se por Susan (Claire Forlani), a filha mais nova de Bill.
“Dirigido pelo premiado diretor Martin Brest (Perfume de Mulher), Encontro Marcado é um drama lançado em 1998, sensível, sério, que apresenta lições de vida através da discussão de temas irretocáveis da realidade humana, como o amor, a amizade, a família, a vida em si e, não menos ou mais importante, a morte. Estes temas são apresentados tanto de forma direta quanto subliminar, através de alegorias, tendo como fonte maior o surgimento e a manutenção do sentimento que calca toda a trajetória da humanidade: o amor.
O existencialismo pontuado no filme concentra-se nestes três pontos: o medo da morte, a compreensão do amor como caminho para uma vida plena e a descoberta das pequenas coisas que permeiam a vida, mas que, de tão corriqueiras, passam despercebidas por todos nós – pequenas ações ou detalhes que nos mostram, dia após dia, como belo é o simples viver do ar que respiramos, do sol que nos aquece à noite que nos adormece. Falando assim parece que este filme é um festival de pieguices, mas não soam falsos nem deslocados em Encontro Marcado.
É um filme que possui o raro poder de emocionar, de forma sincera, no que podemos alcançar – não importa o objetivo, o foco, a meta – no futuro. Ele pontua alguns dos pensamentos conflitantes que nos movem: e se não fosse de tal forma? E se tivesse ou não agido diante de tal situação? Por que me preocupar ou não me preocupar com algo? Confiar plenamente ou não em uma pessoa? Entregar-se ou não ao amor, não importa qual ou como seja esse amor. Angústias inerentes ao ser humano que contextualizam toda a trama de Encontro Marcado, de forma conjunta, a trama, e nunca de maneira gratuita. A (re)descoberta da vontade de viver plenamente é o mote central do filme.
São tantos os pontos que podem ser discutidos neste filme que, se fossem expostos, talvez reduzissem o ponto fundamental do mesmo: o entregar-se, aproveitar a vida, sonhar, viver de forma plena. Sendo assim, para apreciar Encontro Marcado, por completo, o espectador deve começar esquecendo os problemas que assolam o mundo e aproveitando a jornada de Bill Parrish, Joe Black e Susan Parrish como que fosse a sua própria. Vivenciar suas dúvidas, seus sonhos, seus medos e seus amores através de seus olhos e, com isso, aprender, tanto quanto eles, o valor de estar vivo, viver e deixar-se viver. Uma lição que ensaísta, filósofo, matemático ou naturalista nenhum poderia dar-nos de maneira tão genuína e eficaz, mesmo tratando-s de um assunto polêmico: a morte. Olhe o ser humano a sua volta e verá seu próprio reflexo. Somos todos e um só.” Bom filme!
Fontes:
* “Autoconhecimento como Necessidade Evolutiva Progressiva”, Atividade de Área do Núcleo de Aprendizagem de Presidente Prudente-SP, 20 de setembro de 2014
** https://teiapop.wordpress.com/2011/06/11/classico-especial-encontro-marcado/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Meet_Joe_Black