Em sociedade o tema morte é assunto pouco ou quase nada comentado. Trata-se de tabu, proibição, negação. As famílias e o meio social, de modo geral, não abordam, uma vez que os educadores, pais e professores, não tiveram uma formação capaz de elucidar problemas tão intrincados.
À medida que o homem evolui podemos perceber uma maneira diferente de encarar este assunto tão espinhoso.
Enquanto que na Idade Média havia rituais da Igreja para os moribundos ou aqueles que pressentiam o fim próximo, com ou sem participação destes, atualmente há uma distância considerável do tema.
Antigamente os rituais eram dignamente cumpridos por todo moribundo, seus familiares, amigos, vizinhos e a Igreja, dentro dos lares, fazendo parte do cotidiano, da rotina.
Morria-se de forma digna, sabendo-se que o fim estava próximo, e junto a todos os familiares.
Como pensamos a morte atualmente?
Atualmente, somos levados a pensar de forma distante da morte. Estamos sobrevivendo para cumprir nossos papéis numa sociedade tecnológica que prima pela inconsciência de processos naturais e inevitáveis. Uma situação velada, omissa, escondida, negada!
Não há uma consciência formada do que seja morte e do que seja morrer como processos inerentes ao ser humano. Estamos intelectualmente informados. Nem mesmo nossos profissionais ligados à área da saúde são capazes de lidar com a morte.
A formação acadêmica trata apenas e tão somente de evitá-la. Sequer envelhecer o homem se permite. Todos os recursos alimentares, cirúrgicos, medicamentosos levam-no à ilusão de uma vida infinita.
Hoje, os doentes, familiares, amigos, médicos e enfermeiros não falam sobre o assunto, mesmo porque passam suas vidas distantes da maior realidade que existe: vou morrer. De outra forma, teriam que encarar a própria finitude.
A morte perdeu dignidade e valor diante da efêmera corrida do homem por querer sobreviver a tudo e sob qualquer situação como bens materiais, múltiplos cursos, viagens de lazer e tantas outras distrações, distanciando-o da realidade que atinge a todos. Não queremos aqui desvalorizar aquilo que vivemos, mas alertar para o fato de não nos conscientizarmos da nossa “real realidade”.
Negar a possibilidade da morte é continuar iludido
Distante do que o cerca, sem interesse em pesquisar esse assunto, negar talvez seja a forma acomodada de continuar iludido de que a morte não o alcançará.
Vários pensadores aprofundaram-se no assunto, dentre eles Platão, Comenius, Pestalozzi, só para citar alguns. E percebe-se um distanciamento das escolas formais em estudar para entender e compreender tal assunto. Somos induzidos a não pensar, a não refletir, a não sentir a realidade.
Impõem-nos uma enxurrada de informações para “bem sobreviver”, oferecendo, em contrapartida, completa negação – que não nos permite questionamentos sobre a vida, a morte e o fato de morrer. Induzidos a achar ou a sentir que somos eternos, somos educados, mas não instruídos para a vida. Então, apenas sobrevivemos?
O despreparo para lidar com o assunto
Diante desse tabu, não se fala ou não se mostra às crianças o ente querido que faleceu. São retiradas do ambiente, reforçando a negação ilusória de finitude. Esta falsa realidade acompanha o ser aonde quer que ele vá, dificultando-o a “encarar” a verdade diante das adversidades da própria finitude ou de alguém próximo. O assunto parece ser evitado pelo cérebro que no final morre também.
Em todas as áreas vemos pessoas e profissionais sem habilitação ou conhecimento para lidar com a morte. É o médico que perde o paciente, a jovem que perde o namorado num acidente, a criança que vê seu animal de estimação partir, a mãe que se despede do filho. Situações embaraçosas de análise, e compreensão difícil.
Então, cabe a pergunta, o que tem levado o homem a apenas existir? Se tudo que existe morre, por que ele não contesta? Não busca? Perdido em si mesmo, o homem não vive a vida como poderia, porque em seu imaginário sempre haverá outro dia!
Continuamos a nos apartar da única e incontestável realidade do ser humano: ”ao nascer caminhamos inexoravelmente para a morte”, morremos a cada segundo, e podemos concluir disto que o homem se acha “corpo”, o que tem levado a humanidade o mais longe possível de si e do sentido de existir.
Diante do fato de estarmos inconscientes do ser que somos; a que viemos e para onde vamos, perguntas que viraram clichês perderam sua importância.
Dispusemo-nos a trazer este tema, ou melhor, a trazer este fato da vida para mais perto, visando torná-lo parte de nós mesmos, na tentativa de contribuir para a expansão da consciência de seres que, como nós, querem compreender e viver melhor esta experiência chamada vida.
Que é vida? Que é morte? Qual a relação entre elas?
Morre-se a cada dia, diz o jargão popular, mas onde a consciência de que somos finitos? O cérebro formatado apenas para não morrer reage à morte!
Ele sequer se dá conta de que morrerá. Registra apenas a morte do outro e, com isso, desenvolve tecnologias, ciências nas mais diversas áreas para sobreviver ao grande fato.
O homem vive e morre? Ou sobrevive à morte? Medos, traumas, fobias, crenças afastam o homem do real objetivo de estar aqui. Vários fatores afastam-no do interesse a que deveria contrapor-se.
Afinal, morremos ou deixamos o corpo físico? As perdas que administramos no decorrer da existência são mortes. Um homem, na velhice, já presenciou a morte do bebê, da criança, do púbere, do adolescente, do jovem e do adulto que um dia foi. E essas mortes são registradas como tais?
Numa análise simplista podemos afirmar que o homem morre, e na ânsia de viver sequer nos damos conta deste fato.
Por: Regina Celia Pereira e Terezinha Dulce dos Santos Silva – Educadores de Essencialidades do Sistema Tempo de Ser.
Texto maravilhoso!
Parabéns as Educadoras pela seriedade, inteligência e sensibilidade com a qual descortinam reflexões sobre um assunto tão significativo como a “morte”!
Parabéns!
Fantástico!
Muito bom o artigo.
Parabéns as autoras.
Texto muito real e tratado de forma tão objetiva, porém sensível.
Valeu muito a leitura e reflexões.
Muito bem elaborado, parabéns para ambas autoras.