Por Analete Regina Schelbauer.
Ah tenho orgulho de ser professora sim! De ter escolhido essa profissão na juventude e, mesmo diante da inconsciência da escolha, reconhecer que havia uma aspiração: fazer a diferença na vida das pessoas por meio da educação! Da aspiração da juventude, marcada por encantos e desencantos, frustrações e aprendizagens; formei-me e, no exercício do magistério, vivenciado em meio aos desafios do “adultescer” construí parte significativa de minha história, na profissão docente.
A educação transformou-se em foco. Ensinar e aprender tornou-se o norte, a bússola a me orientar na busca por tornar a sala de aula um lugar de aprendizado, acolhimento, interação, diálogo e exercitar a “Pedagogia da Escuta”, como ensinou o mestre Paulo Freire 1 . Atenta às perguntas dos alunos e alunas e aos meus questionamentos internos, conduzi-me por teorias, didáticas, metodologias, informações e conhecimentos que pudessem efetivar, significativamente, a aprendizagem!
Foram tantos os momentos, na formação inicial de professoras e professores, em que pude presenciar conexões e aprendizagens significativas por meio de descobertas, encontros, diálogos, empatia, reflexões, pensamentos expressos em palavras, relações entre teoria e prática e momentos de síntese que faziam o olhar do/a aprendiz brilhar! Momentos em que presenciei a identidade profissional, em processo de construção, em uma imbricada e complexa relação com a identidade pessoal 2 . Daquela interação nascia uma professora, um professor!
Ao olhar para o meu percurso profissional, entrelaçado com o pessoal, sobressaem múltiplas nuances que o olhar interno em conexão com o externo pôde produzir. As marcas impressas dessa história deixaram vestígios, indícios e sentires de que havia uma presença ainda não visitada e nem conhecida por mim, mas que aos poucos pude conhecer na perspectiva do autoconhecimento e ampliar o foco na perspectiva da autoaprendizagem 3 , que me deu coragem para ensinar além dos horizontes comuns e reconhecer o que é essencial nesse percurso.
Compartilho da reflexão de Lucia Peres 4 sobre a necessidade de nos apropriar do lugar que ocupamos neste mundo e de refletir sobre o que fazemos neste lugar que ocupamos; em outras palavras, refletir constantemente sobre o nosso ser/estar no mundo. Olhar para dentro e para fora, para sentir e discernir sobre o que é essencial no percurso de (auto)formação e no convívio com os demais.
Em diálogo com outros educadores, reflito sobre a necessidade de transpor a formação, ir além dos conhecimentos a serem ensinados, das definições teóricas ou metodológicas e contemplar o conhecimento de si, a construção de sua identidade como pessoa humana e como educador/a, adentrar ao universo da auto-formação!
Integrar o eu pessoa e o eu professor, num processo de autoconhecimento e autoaprendizagem, possibilitará olhar para novos horizontes, novas sensibilidades, pois não ensinamos apenas o que conhecemos, mas o que somos! Como Jean Yves Leloup 5
reconheço que, em meio ao momento “apocalíptico” em que vivemos, há algo desmoronando, que requer a escuta atenta ao que está nascendo, ao “barulho da floresta que brota”!
Continuo a reflexão a partir da obra Educação de Essencialidades de Wildemberg e Costa 6 e dos Diálogos Poéticos de Fabiano Fidelis 7 de que o aluno, ao decidir seu próprio sentido, sua própria direção e, então desperto, tornar-se-á o mestre de si. E o
mestre, ao encontrar-se desperto em si transitará, por consequência da autoaprendizagem, para a autoeducação!
A aspiração da jovem professora era fazer a diferença na vida das pessoas por meio da educação, mas foi preciso uma trajetória de vida para reconhecer a necessidade de educar a mim. Fazer a diferença na vida que sou e discernir sobre o que é essencial na
educação de si e do outro.
Hoje me conduzo na busca por integrar esse percurso e como a vida é movida por aspirações e propósitos, almejo o dia em que cada educador em formação possa interessar-se por sua auto-formação, investir em seu autoconhecimento, em sua
autoaprendizagem, na autogestão de seus recursos internos e externos, que desenvolva em si a pedagogia da autonomia e como educador de si, da essencialidade que é, possa educar as novas gerações!
Não se pode educar uma criança sem educar o adulto que educa a criança! 8 Nem tampouco se pode educar o adulto sem que a autoeducação aconteça. Tornar-se mestre de si, desenvolver o processo autoeducativo, é uma necessidade tangente na atualidade. Desenvolver uma pedagogia essencial é um propósito que compartilho com outros educadores de essencialidades!
Analete Regina Schelbauer
15 de outubro de 2019
Referências:
1- FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e
Terra, 1996.
2-Reflexões a partir de MOITA, Maria da Conceição. Percursos de Formação e de Trans-formação;
NÓVOA, Antonio. Os Professores e as histórias da sua vida. In: NÓVOA, António. Vidas de
Professores. Porto: Porto Editora, 2000.
3- Tempo de Ser. Educação de Essencialidades. Disponível em: https://tempodeser.org.br/ Acesso em:
outubro de 2019.
4- PERES, Lúcia Maria Vaz. Movimentos (auto)formadores por entre a pesquisa e a escrita de si.
Educação, Porto Alegre, v. 34, n. 2, p. 173-179, maio/ago. 2011.
5- LELOUP, Jean Yves. Entrevista: O barulho da floresta que brota! Disponível em:
http://www.unipazrecife.org.br/Textos%20Site/Entrevista%20com%20Jean%20Yves.htm Acesso em:
outubro de 2019.
6- WILDEMBERG, Marlete; COSTA, Lucas da. Educação de Essencialidades. Um caminho para a
autoaprendizagem. São Paulo: Comissão Gestora do Projeto Tempo de Ser, 2017.
7- FIDELIS, Fabiano. Um aluno de Drummond. In: Diálogos Poéticos, 2017. Disponível em:
https://www.facebook.com/umafilosofiaessencial/ Acesso em: outubro de 2019.
8- SCHELBAUER, Analete Regina. Escritos diversos. 2017.
Que lindo e rico depoimento!!
Obrigado.
Obrigada, amigo! O texto é fruto do trabalho que temos desenvolvido, ao longo dos últimos anos, no Sistema Tempo de Ser!
Palavras bem posicionadas, parabéns.