Sempre fiquei muito confusa sobre o que são crenças e o que são conceitos. Quando escolhi esse tema vi a oportunidade de esclarecer isso para mim mesma. Quais são minhas crenças? Como elas se constituíram em mim?
Fiz várias pesquisas, mas na hora de encarar o desenvolvimento do texto não foi fácil, as dificuldades se apresentaram muito maiores do que eu pensava. As palavras sumiram, as ideias ficaram bloqueadas, a tensão e a ansiedade causaram o famoso “branco”, impedindo o livre pensamento. Foi nesse momento que identifiquei uma das crenças constituída, muito forte em mim: “Sou incapaz”; “Os outros são melhores”; “Não sou boa o suficiente”; “Não vou conseguir”.
Com certeza algum acontecimento traumático na infância causou esse bloqueio, já que as crenças têm correlação direta com a maneira como nos relacionamos com o ambiente e os educadores. As crenças são convicções íntimas, ideias, percepções consideradas absolutas e verdadeiras, é através delas que olhamos para todas as situações de nossa vida. A partir das crenças são formados os conceitos, juízos ou opinião sobre algo ou alguma coisa.
Até sete, oito anos de idade, eu era uma criança extrovertida, recitava poesias, participava de todos os eventos da escola, e me lembro de poucos fatos que ocorreram que justificariam o medo que sinto em me expor, essa dificuldade de expressão que tenho tanto na fala quanto na escrita. Um fato que veio à minha mente, enquanto escrevia este texto, aconteceu quando eu participava de uma audição de piano. Na apresentação, enquanto eu tocava, o banquinho se quebrou e fui para o chão, arrancando gargalhadas de todos os presentes. Comecei a tocar novamente, toda encolhida, na beirada do banquinho, com a professora bem pertinho, do meu lado. Não me lembro se chorei ou o que senti depois que acabou, pois apaguei esse fato da minha mente. Será que realmente ele aconteceu?
Outras situações constrangedoras, acontecimentos traumáticos, certamente ocorreram durante a minha formação e que, imaginativamente, acreditei serem verdadeiras, mas esse fato foi responsável por crenças constituídas em mim, que influenciam minha vida até hoje. A meu ver, no que consegui perceber, as crenças me transformaram em um adulto tímido, envergonhado, engessado, tolhido e infantilizado.
As crenças, os conceitos que herdamos, vão sempre refletir no nosso comportamento. São transmitidas no período da infância de maneira inconsciente, é como se fosse um caminho pré-estabelecido, que utilizamos sem perceber, talvez para proteção ou para sobrevivência física e emocional. No momento em que se tornam verdades, tornam-se conceitos absolutos, passamos a viver ilusoriamente com base nessa “verdade”. Quando os conceitos chegam à nossa mente, o mecanismo cerebral vai impedir-nos de questionarmos, pois o que cremos está fortemente arraigado em nós. O nosso cérebro cria histórias coerentes com as nossas crenças, pois ele decide o que fazer antes de nós mesmos.
Hoje, pelos estímulos de autoaprendizagem recebidos do STS, tenho a informação de que a dinâmica do autoconhecimento é o único caminho para a desconstituição das crenças. É preciso questioná-las, já que uma crença se torna crença a partir do momento em que não a questionamos. Quando uma crença é quebrada, novos caminhos neurais se fazem, para isso é preciso coragem, uma força sobre-humana, que só surge com o autoconhecimento, através da auto-observação.
**“Conheça-se a si mesmo – conhecerá suas crenças, que serão abaladas, porque verá que elas não fundamentam, em sua sensibilidade e inteligência, a sua forma atual de existir.”**
Marilene G. Bernabe
Contos e Autoencontros
A não compreensão e entendimento do mundo interior levam-nos à busca de efetivar meios de auto-observação, para que fiquem visíveis atitudes e sentimentos que nos movimentam. Um dos meios para observarmos nossas movimentações é a descrição do nosso percurso como educador de essencialidades. O texto publicado anteriormente é uma autodescrição resultante de um projeto elaborado pelos Educadores de Essencialidades do Núcleo de Aprendizagem de Birigui do Sistema Tempo de Ser, dentro da atividade do grupo vespertino de Prática de Inteligência Mediúnica. O projeto tem como proposta a exposição ao meio social das repercussões dos estímulos de autoaprendizagem aos educadores de essencialidades nos ambientes do Sistema Tempo de Ser. Durante sua execução, tem sido considerado que o “autoencontro” pode ocorrer a partir da auto-observação e autodescrição dos “Contos” (história imaginada) que permeiam a existência humana.