E a convivência, como vai?
Vamos refletir um pouco sobre algo que dificulta e facilita tanto a nossa vida: a convivência.
Na definição do dicionário Priberam da Língua Portuguesa, convivência significa 1. Ato ou efeito de conviver. 2. Frequência de trato íntimo e mútuo.
Chama a atenção o segundo significado, frequência de trato íntimo e mútuo. Quando pensamos em convivência, logo pensamos nas pessoas de fora, esse monte de seres humanos diferentes de mim e que me afetam o tempo todo, mas e a frequência de trato íntimo? Se analisarmos, o que realmente significa o outro para nós? Bom, alguns vão responder que atrapalham a sua vida, outros que amam certas pessoas e odeiam outras, outras que convivem muito bem, e tem aqueles que nem sabem que convivem. Talvez o outro nem exista em nosso radar a não ser ao atravessar o nosso caminho para destruir nossos melhores sonhos.
A convivência não é boa nem ruim, ela é uma necessidade do ser humano, pois somos seres sociais, precisamos de outras pessoas com habilidades diferentes. Se vivêssemos em uma ilha, com certeza procuraríamos um animal ou um ser inanimado para nos fazer companhia, pois somos seres afetivos e dependentes.
Mesmo contando com esta necessidade, sempre transformamos a convivência em um centro de batalhas, a princípio por áreas puramente fisiológicas e hoje em dia também por áreas emocionais.
“Diga-me com quem andas e te direi quem és. ”
E assim os seres humanos se organizaram em tribos, turmas, cidades, gangues, trupes de seres afins em suas características, e vivemos assim sem questionar o porquê de tudo isso.
Ainda sobre frequência de trato íntimo, podemos observar que convivemos primeiro com a sociedade que está definida em nosso cérebro desde a infância. Quando nascemos, já caímos no colo da mãe, do pai e dos outros familiares, e fatalmente somos lançados a conviver sem ao menos ter aberto os olhos, sentido os cheiros, tocado em algo, e nossos pais já declaram que nosso nome será tal, que seremos inseridos em tal religião, que devemos aprender o certo e o errado, porque nosso filho é especial e diferente dos filhos dos outros, ele será melhor, o mais inteligente, alguém na vida. E nós que acabamos de chegar não temos vontade própria, a vontade é principalmente da mãe que é aquela com quem estamos ligados pelo cordão que ainda não foi cortado e que não será durante toda a vida.
As crenças, mitos e tabus, vão sendo impressos em nosso cérebro com o trato com a mãe e os familiares, vamos crescendo e adquirindo a melhor forma de sobreviver nesta vida de guerreiros humanos, e a mamãe e o papai são fortes e sobreviventes, imitá-los é um bom negócio. Mas não é só isso, toda nossa formação de base será de 0 a 3 anos de idade, durante a formação dos neurônios, formando caminhos a serem percorridos durante a vida toda, caminhos que bastam ser repetidos, que serei um vencedor, um sobrevivente. Seria tudo normal se não fôssemos seres únicos e emocionais, pois no trato desta primeira infância vamos sentindo e automaticamente o cérebro vai se posicionando na melhor forma de sobreviver.
Trazemos então todos os ensinos dos educadores, mais a nossa forma de sentir, que recebeu aquilo de forma única, traumatizando, e definindo assim a forma que vamos nos comportar dali em diante. Seremos seres a repetir nossa infância até a morte, pois é o que temos de referência. E não é diferente na área sexual. Então temos aí um princípio, primeiro convivemos com nossos educadores e depois de todo caminho neuronal pronto, vamos conviver com aquelas referências, e quando adultos achamos que estamos convivendo com os outros, mas não, a nossa sociedade íntima está pronta e vamos passar a vida convivendo com estes seres fantasmas de nosso cérebro.
Como está nossa frequência de trato íntimo? Esta é a pergunta que deveríamos nos fazer todos os dias quando acordamos, pois vamos encontrar outros seres com sua sociedade íntima formada também, e se inteligentemente nos apossarmos destas informações formadas em nosso cérebro na infância, saberemos lidar conosco e o outro só será uma consequência, pois estarei compreendendo que aquele ser que está na minha frente passou pelo mesmo processo e age automaticamente, repetindo referências infantis que não foi ele que decidiu se queria ou não ter como referência.
Concluindo, caímos no mesmo ponto: desvende-se e desvendará o mundo.
Abordamos aqui uma pequenina parte do ser humano, tão simples, mas tão complexo para nosso entendimento.
Parece simples quando olhamos para os outros e detectamos certos padrões de comportamento, mas desvendar a pele que habitamos se torna complexo, afinal nosso cérebro é uma máquina que responde a qualquer estimulo instantaneamente nos levando a pensar que sabemos como ele funciona.
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Edna Martin é Sexóloga (em formação) e Educadora de Essencialidades do Sistema Tempo de Ser.
Muito Bom Mesmo